Historia & CULTURA
Mestre Camisa
Trajetória do Mestre
Transformador da Capoeira em Movimento Global
José Tadeu Carneiro Cardoso, o Mestre Camisa, é uma das figuras mais influentes e respeitadas da capoeira no Brasil e no mundo. Discípulo direto do lendário Mestre Bimba, foi formado dentro da tradição da capoeira regional, tornando-se referência não apenas como praticante, mas também como educador, pesquisador e difusor cultural.
Fundador e presidente da ABADÁ-Capoeira (Associação Brasileira de Apoio e Desenvolvimento da Arte-Capoeira), Mestre Camisa construiu uma das maiores organizações de capoeira do planeta, reunindo mais de 20 mil capoeiristas em 26 estados do Brasil e em 75 países. A instituição é reconhecida de utilidade pública e tornou-se pilar de preservação, inovação e internacionalização da capoeira.
Sua contribuição transcende a prática corporal: criou o jornal Abadá, publicou livros e CDs de cantigas, fundou o maior acervo audiovisual sobre a capoeira desde 1974 e consolidou campanhas sociais de grande impacto, como “Capoeirista Sangue Bom”, que incentivou a doação de sangue voluntária em massa.
De Jacobina para o mundo
Nascido na Bahia, em Jacobina, o Mestre Camisa é uma das figuras mais importantes da história contemporânea da capoeira. É fundador da ABADÁ-Capoeira, e a sua trajetória é marcada por dedicação, inovação e profundo compromisso com a cultura afro-brasileira e a transformação social através da arte.
Cresceu num ambiente profundamente ligado à capoeira e o seu irmão mais velho, Mestre Camisa Roxa, foi um dos primeiros a orientá-lo no jogo. Com Mestre Bimba, criador da capoeira regional, Camisa aprofundou conhecimentos e consolidou uma base técnica e filosófica sólida.
Na década de 1970, já no Rio de Janeiro, organizou os seus estudos em torno de um novo modelo de ensino. Em 1988, fundou a ABADÁ-Capoeira com a missão de preservar a tradição, promover o desenvolvimento humano e ampliar os horizontes da arte em escala global.
Mais que um mestre, um educador
Camisa desenvolveu uma metodologia que une a tradição da capoeira regional e angola a princípios pedagógicos modernos, priorizando valores como respeito, cooperação, disciplina e consciência crítica.
Com essa abordagem, conquistou respeito internacional e impulsionou o crescimento da ABADÁ, hoje com mais de 30.000 praticantes em mais de 60 países.
O mestre e a comunidade
Mais do que aulas e eventos, Mestre Camisa sempre viu a capoeira como instrumento de inclusão e transformação social, liderando e apoiando projetos especialmente voltados a crianças e jovens em situação de vulnerabilidade.
Graças a essas ações, muitos alunos tornaram-se professores, artistas, músicos e líderes sociais — e, acima de tudo, pessoas conscientes do seu papel no mundo.
Um mestre para todas as gerações
Após décadas de dedicação, ele segue presente em eventos, encontros pedagógicos, rodas e projetos sociais. A sua humildade, força e visão fazem dele não apenas um mestre de capoeira, mas um mestre de vida.
O seu legado vive em cada ginga, cada canto e cada roda sob a bandeira da ABADÁ, inspirando novas gerações no caminho da arte, da consciência e do amor pela cultura.
“A nossa missão é preservar a tradição e transformar vidas através da arte.” — Mestre Camisa
Capoeira como ferramenta de transformação
Ser parte da ABADÁ-Capoeira é fazer parte de um movimento que acredita no poder da arte como caminho de transformação social. Nas aulas, toques, cantos e vivências, os alunos desenvolvem muito mais do que a técnica: aprendem respeito, escuta ativa, solidariedade, consciência histórica e orgulho de suas raízes.
Em comunidades de risco social, favelas, escolas públicas e instituições de apoio, a capoeira se revela um instrumento de empoderamento. Jovens que ingressaram em projetos sociais da ABADÁ hoje são professores, artistas e lideranças nas suas próprias comunidades. A associação também promove ações solidárias, campanhas educativas, eventos beneficentes e programas de formação pedagógica para novos educadores e multiplicadores culturais.
Seja no Brasil ou no exterior, a missão é clara: formar indivíduos íntegros, conscientes e preparados para contribuir positivamente com a sociedade. O impacto do trabalho vai além da roda. Crianças ganham coordenação e autoconfiança, jovens encontram expressão e direção, e adultos redescobrem o corpo e a cultura em movimento.
A ABADÁ-Capoeira acredita que a capoeira é uma linguagem universal. Uma ponte entre o passado e o presente, entre culturas e gerações. Em cada roda, em cada berimbau, em cada ginga ensinada com carinho, a escola reafirma seu compromisso com um mundo mais justo, diverso e humano — no Brasil, em Luxemburgo, e em todo lugar onde a capoeira floresce com verdade.
CEMB – Centro Educacional Mestre Bimba
O CEMB é muito mais do que um espaço cultural: é uma fazenda ecológica situada no coração do interior do Rio de Janeiro, na charmosa cidade de Cachoeiras de Macacu. Criado como uma homenagem ao lendário Mestre Bimba, o CEMB carrega sua memória e filosofia, transformando-as em um projeto vivo que une tradição, natureza e futuro.
Na fazenda, a vida pulsa em harmonia com o meio ambiente. Os animais circulam de forma livre e saudável, convivendo em equilíbrio com a terra, as águas e a vegetação local. O manejo ecológico garante não apenas o bem-estar deles, mas também a preservação do ecossistema, reforçando o compromisso do CEMB com práticas sustentáveis e respeitosas.
Mas o CEMB é também o maior centro de desenvolvimento da capoeira do mundo, onde mestres, alunos e admiradores da arte-luta se encontram para aprender, ensinar e compartilhar experiências. É um espaço onde a capoeira não é apenas movimento, mas também identidade cultural, história e resistência.
Assim, o CEMB se consolida como um lugar único, onde a memória de Mestre Bimba é celebrada diariamente — um verdadeiro símbolo da união entre a cultura da capoeira, o respeito à natureza e a construção de um futuro mais consciente.
Mestre Camisa e a profissionalização do capoeirista
Ao longo do século XX, a capoeira passou de prática marginalizada para manifestação cultural reconhecida mundialmente. Nesse processo, alguns mestres desempenharam papéis fundamentais na organização e valorização da arte. Entre eles, Mestre Camisa (José Tadeu Carneiro Cardoso) destacou-se por estruturar a ABADÁ-Capoeira, transformando-a não apenas em uma instituição cultural, mas também em um espaço de profissionalização para milhares de capoeiristas no Brasil e no exterior.
Da tradição oral à metodologia organizada
A capoeira, durante muito tempo, foi transmitida principalmente pela tradição oral e pela convivência nas rodas. Embora isso preservasse sua riqueza cultural, também dificultava o reconhecimento social da prática como profissão. Mestre Camisa percebeu essa lacuna e desenvolveu uma metodologia de ensino sistematizada, com currículos, graduações e critérios pedagógicos claros. Essa estrutura permitiu que a capoeira fosse ensinada em academias, escolas e universidades, garantindo maior legitimidade para os instrutores e mestres.
Formação e carreira do capoeirista
Na ABADÁ, o capoeirista não é apenas um praticante, mas um aluno que percorre estágios de formação. O sistema de cordas, inspirado nas graduações marciais, oferece não só parâmetros técnicos, mas também pedagógicos e éticos. O capoeirista que alcança níveis mais altos é preparado para ensinar, conduzir grupos e representar a instituição. Essa profissionalização abriu caminho para que instrutores e professores pudessem trabalhar em diferentes contextos — desde academias de artes marciais até projetos sociais, eventos culturais e aulas em universidades.
Capoeira como fonte de trabalho
Um dos grandes legados de Mestre Camisa foi compreender que a capoeira poderia ser não apenas uma paixão ou expressão cultural, mas também uma fonte digna de sustento. Ao estruturar a ABADÁ-Capoeira como uma instituição organizada, ele criou condições para que milhares de capoeiristas transformassem sua prática em uma profissão reconhecida.
Na prática, isso significou a possibilidade de trabalhar como instrutor, professor ou mestre, conduzindo aulas em academias, escolas, universidades e projetos sociais. Muitos capoeiristas passaram também a atuar em eventos culturais, espetáculos de dança, produções artísticas e atividades turísticas, ampliando ainda mais o leque de oportunidades de atuação.
Com a internacionalização da ABADÁ, essa rede de trabalho expandiu-se para mais de cinquenta países. Capoeiristas passaram a viajar e fixar residência no exterior, lecionando, abrindo suas próprias academias e levando consigo a cultura afro-brasileira. Essa dinâmica não só gerou empregos diretos, mas também estimulou o empreendedorismo dentro da capoeira, permitindo que mestres e professores construíssem carreiras sólidas e sustentáveis em diferentes partes do mundo.
Além do aspecto econômico, essa estrutura de trabalho consolidou um novo status para o capoeirista: de praticante visto apenas como artista popular ou atleta, ele passou a ser reconhecido como educador, gestor cultural e agente social. Essa mudança de percepção fortaleceu o papel da capoeira como atividade legítima, capaz de oferecer renda, estabilidade e, ao mesmo tempo, impacto social e cultural.
“A capoeira tem que ser ensinada com amor, com conhecimento e com responsabilidade. É uma arte completa — e quando bem cuidada, ela muda vidas.” — Mestre Camisa
Impacto cultural e social
Profissionalizar o capoeirista significou também dar reconhecimento social à prática. A atuação organizada da ABADÁ contribuiu para que a capoeira fosse aceita em escolas, universidades e políticas públicas de cultura e esporte. Além de gerar trabalho, essa estrutura reforçou a identidade cultural afro-brasileira e transformou a capoeira em um instrumento de integração social, especialmente em comunidades onde projetos sociais com capoeira oferecem novas perspectivas para crianças e jovens.
Legado de Mestre Camisa
Mestre Camisa deixou um legado que vai além da técnica ou da criação de um estilo: ele construiu um modelo de profissionalização que elevou a capoeira ao patamar de carreira possível. Sua visão empreendedora e pedagógica mostrou que o capoeirista pode ser também um educador, um líder comunitário e um embaixador cultural. Dessa forma, a ABADÁ consolidou-se não apenas como uma escola de capoeira, mas como uma rede de formação humana, cultural e profissional.
A trajetória do Mestre
Nasce José Tadeu Carneiro Cardoso (Mestre Camisa) em Jacobina, Bahia
Primeiro contato com a capoeira no interior da Bahia, vendo rodas espontâneas.
Passa a jogar em rodas de rua em Salvador; aos 12 anos entra na Academia de Mestre Bimba, sendo formado na Capoeira Regional.
Viaja pelo Brasil com o grupo folclórico Olodum Maré. Decide ficar no Rio de Janeiro, onde inicia sua carreira como professor de capoeira.
Começa a construir o maior acervo audiovisual e bibliográfico sobre capoeira.
Eleito melhor capoeirista do Brasil pela revista Do de Artes Marciais.
Início da produção de instrumentos de capoeira (berimbau, atabaque, agogô, caxixi).
Criação da Capoeira Especial Inclusiva para pessoas com deficiência
Fundação da ABADÁ-Capoeira, no Rio de Janeiro
Organização do Encontro Mundial de Capoeira e Samba no Circo Voador (RJ).
Lançamento do projeto de preservação da biriba, árvore essencial para o berimbau.
Palestra na Embaixada Brasileira em Paris.
Realização do 1º Jogos Mundiais de Capoeira (RJ).
Realização dos Jogos Brasileiros de Capoeira
Participa do Encontro Mundial de Artes Marciais (França).
Criação da campanha “Capoeirista Sangue Bom” (doação de sangue).
1999 →Realização dos Jogos Mundiais de Capoeira.
2000 → Jogos Brasileiros de Capoeira.
2001 → Jogos Mundiais de Capoeira.
2002 → Jogos Brasileiros de Capoeira.
2004 → Jogos Brasileiros de Capoeira.
2005 → Jogos Mundiais de Capoeira.
2006 → Jogos Brasileiros de Capoeira.
2006 →Jogos Mundiais de Capoeira.
Recebe o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Uberlândia.
Realização anual do Zumbimba, encontro cultural de capoeira e resistência.
