A capoeira sempre foi escola de vida. Ensina disciplina, respeito, criatividade e ancestralidade. Mas, nas últimas décadas, também conquistou espaço como campo de pesquisa acadêmica, entrando em universidades e centros de estudo. Nesse contexto, o projeto AbadÁcadêmico se destaca como uma das mais importantes iniciativas que unem capoeira e ciência no Brasil.
O estímulo ao conhecimento científico
Desde a fundação da Escola ABADÁ-Capoeira, o Mestre Camisa sempre defendeu que a capoeira deveria dialogar com o conhecimento científico. Ao longo de sua trajetória, promoveu palestras, cursos e seminários, acreditando que a reflexão acadêmica fortaleceria ainda mais a arte. Essa visão culminou, em 2016, na criação do projeto AbadÁcadêmico.
“A capoeira precisa estar também na universidade, para ser estudada, documentada e respeitada como ciência e cultura.”
— Mestre Camisa
O nascimento do AbadÁcadêmico
A primeira edição ocorreu em Petrolina-PE, na Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), sob supervisão de Mestre Camisa. A proposta era clara: criar um espaço em que capoeiristas e pesquisadores pudessem apresentar estudos originais, reflexões e relatos de experiências em diferentes áreas, como saúde, educação, história e cultura.
O evento se tornou itinerante, acontecendo em várias cidades do Brasil. Além de Petrolina, já foram realizadas edições em Curitiba-PR e Fortaleza-CE, sempre com o mesmo espírito de unir tradição e ciência.
Um espaço de produção de conhecimento
Cada edição do AbadÁcadêmico resulta na publicação de um livro, registrando os artigos e pesquisas apresentadas. Esses materiais não apenas ampliam a literatura sobre capoeira, mas também servem de base para estudos futuros. Com isso, o evento contribui para consolidar a capoeira como campo legítimo de investigação científica.
As áreas abordadas são diversas: das ciências da saúde, que analisam o impacto da capoeira no corpo e na mente, às ciências humanas, que estudam seus aspectos históricos, filosóficos e sociais. Essa pluralidade mostra a riqueza da capoeira como objeto de estudo interdisciplinar.
Formação de novos especialistas
Outro impacto importante do projeto é a formação de recursos humanos qualificados. Muitos capoeiristas participantes desenvolvem suas habilidades de pesquisa e tornam-se profissionais capazes de articular prática e ciência. Esse movimento fortalece o reconhecimento da capoeira na sociedade e amplia suas possibilidades de atuação em escolas, universidades, projetos sociais e políticas públicas.
“O AbadÁcadêmico mostra que a capoeira não é apenas luta ou dança, mas também conhecimento e ciência.”
— Participante do evento
Capoeira nas universidades do mundo
O alcance da capoeira não ficou restrito ao Brasil. Nas últimas décadas, universidades de diferentes continentes passaram a oferecer disciplinas, cursos e até linhas de pesquisa dedicadas à capoeira. Nos Estados Unidos, universidades como Harvard, UCLA e Columbia recebem mestres brasileiros para aulas e seminários, explorando a capoeira como ferramenta de educação física, arte e estudos africanos. Na Europa, países como França e Alemanha abrigam projetos acadêmicos que estudam a capoeira em sua dimensão pedagógica e intercultural. No Japão, a prática entrou em currículos escolares, valorizando o aspecto disciplinar e coletivo da arte.
Essas experiências internacionais mostram que a capoeira é vista como mais do que um esporte: é analisada como patrimônio cultural, prática pedagógica e campo fértil para estudos de identidade, diáspora e integração social.
Educação e futuro
Mais do que um evento, o AbadÁcadêmico é um símbolo do diálogo entre tradição e modernidade. Ele reafirma a missão da Escola ABADÁ-Capoeira de preservar a herança cultural africana, ao mesmo tempo em que projeta a capoeira para o futuro, como ferramenta educacional, social e científica.
Hoje, quando capoeira entra nas escolas e universidades, leva consigo não apenas o som do berimbau e a ginga, mas também reflexões críticas e pesquisas sérias. O AbadÁcadêmico é a prova viva de que a capoeira, além de corpo e música, é também pensamento e conhecimento. E sua repercussão internacional garante que a capoeira siga sendo uma arte global, respeitada e estudada em todos os continentes.
